30 de agosto de 2009
16 de agosto de 2009
Trust
A confiança é o correlato emocional do amor primário, condição sine qua non da experiência de unidade ou continuidade do self consigo e com o mundo. O impulso para confiar é o que conduz o sujeito a criar um espaço de interação com os objetos, no qual unidade e alteridade, eu e outro, individualidade e dualidade, coexistem sem ruptura, mas também sem fusão. Balint e Winnicott convergem ao supor que “tanto o bebê quanto o adulto capazes de relaxar e de não-integrar-se conhecem existencialmente a experiência de confiar e de sentir-se a salvo”. A não-integração como o amor primário se encontra, portanto, intimamente ligada à experiência de confiança, pressuposto psíquico do sentimento de continuidade da existência.
Pedro Salém e Jurandir Freire Costa
(extraído do artigo "Sobre a confiança em Balint" - Revista Textura (2003))
Pedro Salém e Jurandir Freire Costa
(extraído do artigo "Sobre a confiança em Balint" - Revista Textura (2003))
13 de agosto de 2009
Para além da alma e da pele
Arte de amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manuel Bandeira
Os dois estavam em silêncio há uns quinze minutos. Desde a última visita do garçom, quando deixou a cerveja a pedido dela, não se olhavam mais. Entre os dois corpos mudos havia uma mesa. Abaixo dela as pernas estavam livres, mas ainda assim distantes. Ambos olhavam a rua automaticamente. Enquanto os dedos dele batiam levemente a mesa em um ritmo constante, os braços congelados dela permaneciam cruzados. Em um ato inconseqüente ela irrompeu a ansiosa quietude sem lhe dirigir o olhar:
- Por que você estava insensível comigo ontem? Nem tchau direito você deu!
- O problema foi o tchau, então? - Não, não foi o tchau em si, foi a sua insensibilidade. Você reparou que a gente mal conversou a noite toda?
- Insensibilidade? Você não consegue perceber o quanto meu corpo é sensível, né?... ele sente você o tempo todo, tanto a presença quanto a falta. E sua presença ausente me deixa assim, mudo.
- Mas eu não estou ausente, pelo contrário! Estou aqui querendo conversar com você, não tô?
Antes de terminar a frase os pés dele tocaram os dela. O movimento pegou-a de surpresa e seus dois olhos negros esboçaram um sorriso maroto que ele não viu. Mesmo com os pés em comunhão os dedos dele continuavam com o ritmo constante em direção a mesa, e sua face não esboçava mudança alguma. As palavras se esquivavam, mas sua alma começou a se aproximar assim que os braços dela se descruzaram. A única frase que encontrou foi:
- Sobre o que você quer conversar?
- Não sei mais, acho que sobre a gente... Os olhos dela rapidamente o abandonaram, voltando-se para rua.
- Mas a gente! A gente tá aqui ô. - suas mãos soltas no ar esboçaram o contorno dos dois corpos. – O que mais precisa pra gente se entender? A mão esquerda dele voltou a ritmar a mesa para aplacar o desandamento do seu coração. Já tinha falado demais por hoje.
Sentindo que as mãos começavam a suar e se esforçando para que seu tronco não desabasse, ela timidamente perguntou:
- E se eu te der o meu corpo, você me ensina a entender?
- Mas você já não me deu o seu corpo? E os olhos dele paralisam, agarrados aos lábios dela.
- Acho que não. Eu devo ter entregue apenas a pele.... Finalmente os dedos dele pararam de bater a mesa. Seus olhos de dúvida não largavam a boca dela e ainda clamando por socorro ouviu: É que eu ainda não nasci direito.
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manuel Bandeira
Os dois estavam em silêncio há uns quinze minutos. Desde a última visita do garçom, quando deixou a cerveja a pedido dela, não se olhavam mais. Entre os dois corpos mudos havia uma mesa. Abaixo dela as pernas estavam livres, mas ainda assim distantes. Ambos olhavam a rua automaticamente. Enquanto os dedos dele batiam levemente a mesa em um ritmo constante, os braços congelados dela permaneciam cruzados. Em um ato inconseqüente ela irrompeu a ansiosa quietude sem lhe dirigir o olhar:
- Por que você estava insensível comigo ontem? Nem tchau direito você deu!
- O problema foi o tchau, então? - Não, não foi o tchau em si, foi a sua insensibilidade. Você reparou que a gente mal conversou a noite toda?
- Insensibilidade? Você não consegue perceber o quanto meu corpo é sensível, né?... ele sente você o tempo todo, tanto a presença quanto a falta. E sua presença ausente me deixa assim, mudo.
- Mas eu não estou ausente, pelo contrário! Estou aqui querendo conversar com você, não tô?
Antes de terminar a frase os pés dele tocaram os dela. O movimento pegou-a de surpresa e seus dois olhos negros esboçaram um sorriso maroto que ele não viu. Mesmo com os pés em comunhão os dedos dele continuavam com o ritmo constante em direção a mesa, e sua face não esboçava mudança alguma. As palavras se esquivavam, mas sua alma começou a se aproximar assim que os braços dela se descruzaram. A única frase que encontrou foi:
- Sobre o que você quer conversar?
- Não sei mais, acho que sobre a gente... Os olhos dela rapidamente o abandonaram, voltando-se para rua.
- Mas a gente! A gente tá aqui ô. - suas mãos soltas no ar esboçaram o contorno dos dois corpos. – O que mais precisa pra gente se entender? A mão esquerda dele voltou a ritmar a mesa para aplacar o desandamento do seu coração. Já tinha falado demais por hoje.
Sentindo que as mãos começavam a suar e se esforçando para que seu tronco não desabasse, ela timidamente perguntou:
- E se eu te der o meu corpo, você me ensina a entender?
- Mas você já não me deu o seu corpo? E os olhos dele paralisam, agarrados aos lábios dela.
- Acho que não. Eu devo ter entregue apenas a pele.... Finalmente os dedos dele pararam de bater a mesa. Seus olhos de dúvida não largavam a boca dela e ainda clamando por socorro ouviu: É que eu ainda não nasci direito.
9 de agosto de 2009
6 de agosto de 2009
A mudez do quase vazio
Devo eu acreditar no que sinto?
Talvez.
Mas e se os sentimentos simplesmente não forem confiáveis,
E sim semi vazios
Completos de nuvens cinzas
Daquelas que dão voltas e voltas sem parar
Talvez.
Mas e se os sentimentos simplesmente não forem confiáveis,
E sim semi vazios
Completos de nuvens cinzas
Daquelas que dão voltas e voltas sem parar
Sobre um círculo que nunca se finda.
Diz-se para depois se desdizer....
Melhor então é ficar mudo,
Mas ainda assim crente.
Diz-se para depois se desdizer....
Melhor então é ficar mudo,
Mas ainda assim crente.
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