21 de janeiro de 2009

Sombra Pálida


Ele andava cabisbaixo. Alguma coisa trazia seus olhos ao chão encardido. Parecia estar com medo de olhar à frente. O sol estava alto. Em seu rosto pálido escorriam gotas de suor. Havia esperado por muito tempo este momento e agora sentia-se vazio, não sabia se ainda tinha direito de poder experimentar algum sentimento. O sol forte formava atrás de seu corpo uma enorme sombra que pesava a cada passo dado.
Algo o impedia de seguir, não se sentia preparado. Seus olhos mergulhavam no chão em que pisava, fazendo-o reviver todos os anos que passou ali. Nunca pensou que fosse se acostumar com o local, muito menos fazer amigos; achava-se diferente dos demais. As gotas de suor que caíam transcreviam a diagonal que o levaria até o portão principal. No caminho lembrava-se do dia em que chegou, aquele cheiro forte que penetrava sua narina, a maneira como os outros o olhavam... Lembrou-se que sentiu nojo, pavor, medo. Mas com o passar dos anos descobriu que não era tão diferente dos outros que estavam lá. O mesmo passado os aproximava, afinal todos haviam cometido algum tipo de crime.
Diminuiu a largura dos passos. Tinha a sensação de que estava caminhando há uma eternidade. Sentiu-se cansado apesar de a distância que o separava daquele portão ser menor naquele momento. Como um relâmpago levantou os olhos rapidamente e não encontrou ninguém do outro lado do portão. Estava só, sempre esteve só, nunca recebeu visitas. Devolveu os olhos ao chão e perdeu a vontade de continuar caminhando. Esforçou-se em dar meia volta. Mas a sombra que estava às suas costas não o permitia voltar. Estava ali, no meio do pátio, sem poder se movimentar. Era impossível retornar - agora era a vez de outro.
O outro lado do portão o assustava. Tudo parecia ser tão grande, sem grades ou sirenes. Não sabia o que poderia fazer do lado de lá, estava velho, pálido, não conseguiria ser útil novamente, não depois de tantos anos. O guarda gritou da cabine: “Não pode ficar aí parado por muito tempo cara, anda logo”.
Continuou andando, chegou vagarosamete ao portão. Suspirou, não sentia mais o mesmo odor que tanto repelira, tinha perdido seus sentidos.
Passou anestesiado e ouviu o portão fechar-se logo atrás dele. Tapou parcialmente os olhos, não aguentava mais tamanha luminosidade. Deu alguns passos à frente. Sentia-se estranho. Pela última vez olhou para trás. Sua sombra não o acompanhava mais, ela havia ficado presa ao portão. Agora era um homem sem passado e que não conseguia enxergar o futuro.
Depois de todos esses anos, teve medo novamente.

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